O Egito interditou a entrada de
carne bovina do Paraná em seu mercado, aumentando a lista dos países que
levantaram barreiras contra exportações brasileiras em razão do caso "não clássico"
de "vaca louca" confirmado no Estado do Sul do país.
O Valor apurou que
autoridades egípcias, que inicialmente tinham sinalizado que não iriam fazer
restrições, informaram sobre a interdição verbalmente à embaixada brasileira no
Cairo.
Como o
Egito é um dos maiores compradores da carne bovina brasileira, com US$ 493,4
milhões (122.599 toneladas) entre janeiro e novembro, a medida pode inquietar
pelo risco de causar um efeito cascata no mercado. Mas, como a barreira está
restrita ao Paraná, o impacto comercial é insignificante, já que as importações
egípcias procedentes do Estado alcançaram apenas US$ 4,3 milhões (1.109
toneladas) no período.
Japão, China e África do Sul
suspenderam as importações de carne de todo o Brasil. O foco do Egito somente sobre
o Paraná pode ser seguido por alguns parceiros. Na sexta-feira, fontes do setor
privado se inquietavam com indicações de que o Chile poderia proibir a entrada
de carne bovina procedente do Estado.
"Esperamos
que isso não ocorra, porque o Ministério da Agricultura está dando as
explicações", afirmou João Sampaio, vice-presidente da Marfrig, à margem
de um seminário realizado em Moscou (ver matéria acima). O executivo lembrou
que as proibições adotadas por Japão, China e África do Sul afetam apenas 1% das
exportações brasileiras de carne bovina.
O Irã,
outro grande importador da carne bovina brasileira, continua avaliando o caso e
ainda não tomou qualquer decisão. A JBS informou nos círculos comerciais de
Teerã que não havia interrupção nos embarques para o mercado local. JBS e
Marfrig são as maiores empresas exportadoras de carne bovina do país.
Entre
janeiro e outubro, o Irã comprou 59.317 toneladas de carne bovina brasileira
por US$ 282 milhões, aparecendo entre os maiores importadores.
A vinda à
Organização Mundial do Comércio (OMC) de uma delegação do Ministério da
Agricultura para tentar convencer os parceiros de que o caso da "vaca
louca" do Paraná é atípico dificilmente impedirá mais reações contra a
carne brasileira.
Fontes do governo brasileiro admitem que o
problema não é com o caso em si, já que os Estados Unidos registraram
ocorrência idêntica e a União Europeia teve cinco no ano passado.
O que
está havendo é uma forte desconfiança por causa do grande atraso dos testes
sobre a doença. O caso no Paraná começou em 18 de dezembro de 2010, quando um
animal morto aos 13 anos com suspeita de raiva teve amostras coletadas para
análise obrigatória.
O primeiro resultado do teste foi em 15 de
junho deste ano, confirmado em laboratório de referencia internacional no
ultimo dia 7. Ao notificar a Organização Mundial de Saude Animal (OIE), o
Brasil justificou o atraso por motivo de incidente que teria criado uma
sobrecarga no sistema laboratorial oficial.
Uma
suspeita é que o Brasil tenha guardado o caso na gaveta para obter, em maio
passado, o status de país com risco insignificante para a doença da "vaca
louca" pela OIE. Brasileiros rejeitam categoricamente a existência desse
tipo de manobra. Em Moscou, a presidente Dilma Rousseff, sabendo da suspeita,
disse que mandou investigar os motivos do atraso no anúncio do caso. (AM)
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