terça-feira, 11 de junho de 2013

JBS vai pagar quase R$ 6 bi pela Seara Brasil

A JBS, maior empresa de proteína animal do mundo, vai desembolsar aproximadamente R$ 6 bilhões pela Seara Brasil, apurou o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. A aquisição já foi anunciada oficialmente. Com a venda, segundo estimativas, a Marfrig, controladora da Seara, terá uma baixa de 60% de sua dívida líquida, hoje em R$ 9,8 bilhões.

Wesley Batista, CEO da JBS, nunca escondeu a intenção de crescer em aves

No mês passado, a Marfrig anunciou um plano de reestruturação numa tentativa de reduzir seu endividamento bruto, que é de quase R$ 13 bilhões. O plano previa a venda de quatro unidades da Seara e o fechamento de quatro centros de distribuição no Brasil e dois abatedouros de bovinos na Argentina. Essas medidas, no entanto, seriam insuficientes para atingir a meta de reduzir a dívida em R$ 2 bilhões até o fim de 2013.

Mesmo assim, o plano anunciado pelo CEO da Seara Foods e futuro CEO da Marfrig, Sérgio Rial, foi bem recebido pelo mercado. As ações tiveram alguma recuperação na BM&FBovespa em maio, depois de serem castigadas durante o mês de abril.

A operação entre JBS e Marfrig envolve os ativos da Seara Brasil, incluindo os que a empresa recebeu da BRF em uma operação de compra e troca de ativos no fim de 2011. A BRF teve de vender unidades no Brasil para cumprir o acordo que permitiu sua criação feito com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).Em abril, em entrevista ao Valor, Rial já havia admitido que a Marfrig teria de vender ativos para reduzir suas dívidas e a alavancagem.

Na apresentação dos resultados do primeiro trimestre, mês passado, o presidente da JBS, Wesley Batista, negou que mantivesse negociações com a Marfrig. Mas é fato que a companhia da família Batista nunca escondeu seu interesse em crescer nosegmento de aves no Brasil, no qual ingressou no ano passado, com o arrendamento (com opção de compra) das unidades da francesa Doux Frangosul. Com essas unidades, a JBS atende principalmente o mercado externo, com frango inteiro e cortes, considerados commodities. Com a Seara Brasil, a empresa ampliará sua operação com produtos industrializados de aves e suínos.

A operação indica que a JBS nutre expectativas elevadas em relação ao segmento de aves e suínos. No entanto, a Seara Brasil, com receita de R$ 7,1 bilhões em 2012, tinha se tornado um problema para a Marfrig e vinha afetando negativamente os balanços da companhia por conta, principalmente, da dificuldade de integração dos ativos recebidos da BRF. No ano passado, a empresa teve prejuízo de R$ 224 milhões e voltou a ficar no vermelho no primeiro trimestre deste ano, com perda líquida de R$ 81,2 milhões.

Mas as dificuldades na Seara Brasil não eram o único problema da Marfrig. A empresa ampliou muito seu endividamento e alavancagem por conta de uma estratégia agressiva de aquisições no Brasil e no exterior capitaneada por Marcos Molina, o fundador e CEO da Marfrig. Só depois de abrir o capital, em 2007, adquiriu 18 empresas. A Seara foi uma dessas aquisições: a companhia foi comprada da Cargill em 2009, por US$ 900 milhões.

Molina, fundador da Marfrig, promoveu estratégia agressiva de aquisições

Nem a recente oferta de ações, no valor de R$ 1 bilhão, feita pela Marfrig no fim do ano passado, conseguiu melhorar o quadro do endividamento da companhia. Assim, no dia 31 de março, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) da Marfrig voltou a subir - passando de 4,31 vezes, no fim de 2012, para 4,4 vezes, em 31 de março.

Ao mesmo tempo em que vai reduzir o endividamento da Marfrig, a operação envolvendo a Seara Brasil deve elevar a dívida líquida da JBS, que era de R$ 15,6 bilhões no dia 31 de março deste ano. Também coloca um ponto de interrogação sobre a estratégia propagandeada pela JBS de reduzir sua alavancagem, que era de 3,4 vezes no fim do primeiro trimestre.

Com a venda da Seara Brasil, a Marfrig fica mais enxuta, e mantém os negócios que têm sido rentáveis, como a divisão de bovinos, a Moy Park, na Europa, e a Keystone Foods, que tem operação na Ásia, Estados Unidos, Europa, Austrália, Nova Zelândia e Oriente Médio.  Fonte e imagens: Jornal Valor Econômico.

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